sexta-feira, 3 de agosto de 2012

Caçulinhas para a Alma








Infelizmente a ilusão do ter “sempre mais” oriunda deste sistema capitalista nos tirou não somente o tempo, mas tirou com ele pequenas coisas as quais o dinheiro não pode comprar.

Pequenas coisas que podem ser importantes para nós, mas que lamentavelmente só percebemos seu real valor quando elas não estão mais conosco.
É bem verdade que atualmente contamos com uma diversidade imensa de produtos e uma facilidade para suprir “nossas necessidades” em todas as épocas e todas as datas.

Quando se aproxima uma data comemorativa o comércio se abastece de tal forma que nos contagia, e as facilidades para as compras driblam até mesmo os mais “econômicos”.

Mas, eu quero relembrar o prazer que pequenas coisas nos davam e pelas quais aguardávamos o ano inteirinho.
Desejo compartilhar o prazer que era tomar uma caçulinha no final de ano.
Isso mesmo! Uma simples caçulinha era o que proporcionava o mega, o máster, o hiper, o super! Prazer da espera pela festa de natal.

Na época chamávamos de sodinha, independente se o refrigerante era guaraná, soda ou abacaxi, o tamanho da garrafa identificava o refrigerante como sodinha.
Cada criança ganhava uma garrafinha e seguia um ritual para tomá-la.
A tampinha era furada com um prego e ao longo do dia a bebida era degustada bem devagar.

Não havia nenhuma preocupação se a bebida estava gelada ou não, se ainda tinha gás ou não, guardávamos (na verdade escondíamos) aquela garrafinha e tornávamos a pegá-la, tomávamos um golinho e repetíamos a mesma cena por várias vezes, e era assim ao longo daquele dia, muita coisa girava em torno daqueles 200 ml.

A mesa era arrumada e sobre ela eram postas as comidas que as mães e as tias preparavam, não tinha produtos importados, não precisava de azeites caros ou condimentos famosos, acredito que os bobs nas cabeças, os vinhos e as prosas dos homens e a bagunça das crianças davam conta de suprir qualquer tempero e tudo aquilo tinha um sabor tão bom que gerava na gente um sentimento tão gostoso que fazia a gente já desejar o próximo Natal.

Os brinquedos que ganhávamos eram de plásticos e sem movimentos, mas eles não precisavam se mexer, a gente os mexia, e nós brincávamos e os brinquedos brincavam com a gente.



A gente simplesmente brincava!


Hoje o brinquedo canta, dança, se move sozinho, a mesa está mais farta do que nunca e os temperos vieram de todas as partes do mundo e realmente coisas e coisas vieram, mas os bobs se foram, o vinho e prosa acabaram, e o barulho das crianças cessou, e o sabor mudou.

E o pior de tudo é que não sabemos onde guardamos a caçulinha?

Em que parte do tempo ela se perdeu?

E quem consegue dizer o que de fato perdemos?

Há mais alguém além desta nostálgica que sente falta da caçulinha?

Quanto a você não sei o que desejas, não sei o que precisas para te sentires feliz.

Quanto a mim, meu coração tem sede de sodinha, e a minha alma pede uma mais porção de caçulinha!!!






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