Infelizmente a ilusão do ter “sempre mais” oriunda deste
sistema capitalista nos tirou não somente o tempo, mas tirou com ele pequenas
coisas as quais o dinheiro não pode comprar.
Pequenas coisas que podem ser importantes para nós, mas
que lamentavelmente só percebemos seu real valor quando elas não estão mais
conosco.
É bem verdade que atualmente contamos com uma diversidade
imensa de produtos e uma facilidade para suprir “nossas necessidades” em todas
as épocas e todas as datas.
Quando se aproxima uma data comemorativa o comércio se
abastece de tal forma que nos contagia, e as facilidades para as compras
driblam até mesmo os mais “econômicos”.
Mas, eu quero relembrar o prazer que pequenas coisas nos
davam e pelas quais aguardávamos o ano inteirinho.
Desejo compartilhar o prazer que era tomar uma caçulinha no
final de ano.
Isso mesmo! Uma simples caçulinha era o que proporcionava o
mega, o máster, o hiper, o super! Prazer da espera pela festa de natal.
Na época chamávamos de sodinha, independente se o
refrigerante era guaraná, soda ou abacaxi, o tamanho da garrafa identificava o
refrigerante como sodinha.
Cada criança ganhava uma garrafinha e seguia um ritual para
tomá-la.
A tampinha era furada com um prego e ao longo do dia a
bebida era degustada bem devagar.
Não havia nenhuma preocupação se a bebida estava gelada ou
não, se ainda tinha gás ou não, guardávamos (na verdade escondíamos) aquela
garrafinha e tornávamos a pegá-la, tomávamos um golinho e repetíamos a mesma
cena por várias vezes, e era assim ao longo daquele dia, muita coisa girava em
torno daqueles 200 ml.
A mesa era arrumada e sobre ela eram postas as comidas que
as mães e as tias preparavam, não tinha produtos importados, não precisava de
azeites caros ou condimentos famosos, acredito que os bobs nas cabeças, os
vinhos e as prosas dos homens e a bagunça das crianças davam conta de suprir
qualquer tempero e tudo aquilo tinha um sabor tão bom que gerava na gente um
sentimento tão gostoso que fazia a gente já desejar o próximo Natal.
Os brinquedos que ganhávamos eram de plásticos e sem
movimentos, mas eles não precisavam se mexer, a gente os mexia, e nós
brincávamos e os brinquedos brincavam com a gente.
A gente simplesmente
brincava!
Hoje o brinquedo canta, dança, se move sozinho, a mesa está
mais farta do que nunca e os temperos vieram de todas as partes do mundo e
realmente coisas e coisas vieram, mas os bobs se foram, o vinho e prosa
acabaram, e o barulho das crianças cessou, e o sabor mudou.
E o pior de tudo é que não sabemos onde guardamos a
caçulinha?
Em que parte do tempo ela se perdeu?
E quem consegue dizer o que de fato perdemos?
Há mais alguém além desta nostálgica que sente falta da
caçulinha?
Quanto a você não sei o que desejas, não sei o que precisas
para te sentires feliz.
Quanto a mim, meu
coração tem sede de sodinha, e a minha alma pede uma mais porção de caçulinha!!!
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